Terapia Cognitivo-Comportamental e desafios com o emagrecimento: como a psicologia pode auxiliar no processo de emagrecimento?

Desafios com o emagrecimento

Muitas pessoas têm dificuldades relacionadas a perda de peso e passam anos lutando contra a balança. Por vezes, sabem o que precisa ser feito (dieta saudável, exercícios físicos, menor ingestão de calorias, planejamento das alimentações e muitas outras recomendações médicas e/ou nutricionais), entretanto conseguem ao longo da vida a tão sonhada perda de peso, mas não conseguem a manutenção deste ganho.

Para o Ministério da Saúde a obesidade é decorrente do acúmulo de gordura no organismo, que está associado a riscos para a saúde, devido à sua relação com várias complicações metabólicas.  A obesidade é multifatorial, pois suas causas estão relacionadas a questões biológica, psicológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas.

Talvez um dos maiores desafios na perda de peso seja a conservação dos hábitos necessários para manter-se no peso ideal de maneira definitiva.

Algumas ideias podem contribuir para que as pessoas não mantenham o peso ideal e os hábitos saudáveis para a saúde:

  • “Eu quero emagrecer rápido”.

  • “Eu quero emagrecer a qualquer custo”.

  • “Vou emagrecer para ir `aquela festa/ para o meu casamento/ para entrar no vestido branco/para o verão” (um evento pontual).

  • “Para me manter no peso ideal terei que me privar de tudo o que eu gosto”.

  • “Eu me sinto injustiçado em ter que mudar meus hábitos, há pessoas que comem tanto e são magras”.

  • “Minha vida é muito corrida e não consigo tempo para me organizar”.

Outras características que podem impedir que as pessoas tenham sucesso em iniciar um processo de mudança de hábitos ou manter seus ganhos são:

  • Confusão entre fome e vontade de comer;

  • Intolerância à fome;

  • Desejo de se sentir bastante saciado;

  • Comer como estratégia para lidar com as emoções;

  • Desânimo com o ganho de peso (“Eu tento, tento e não consigo emagrecer... Vou desistir!”);

  • Foco na injustiça (“É injusto ver os outros comendo e eu não!”);

  • Pensamentos permissivos (“Não fará diferença comer um pouco mais.”, “Eu tive uma semana tão cansativa e estressante, mereço comer o que eu quiser.”, “Já que não segui as orientações da nutricionista no café da manhã, então começarei a seguir o planejamento alimentar apenas amanhã.”).

  • Não ter consciência de que a obesidade é uma doença crônica, progressiva e com alto índice de recidiva.

  • Perceber mais desvantagens do que vantagens em ter uma mudança de hábitos (“será muito difícil”, “irá demorar muito para atingir meu peso ideal”, “terei que me privar de muitas coisas” e/ou “odeio fazer exercícios físicos).

A autora Judith Beck (2009) sugere algumas perguntas para reflexão:

  • Quantas vezes você tentou emagrecer?

  • Quantas vezes você emagreceu, mas recuperou todo seu peso ou parte dele?

  • Qual é o seu grau de satisfação com seu peso atual?
    (  ) Nenhum  (  ) Pouco  (  ) Moderado  (  ) Muito  (  ) Total

  • Qual a sua disposição para mudar seus hábitos alimentares e fazer exercícios físicos? (nível de motivação)
    (  ) Nenhuma  (  ) Pouca  (  ) Moderada  (  ) Muita  (  ) Total

  • Com que frequência você come de pé? (Hábitos alimentares)
    (  ) Nunca  (  ) Raramente  (  ) Algumas vezes  (  ) Frequentemente  (  ) Sempre

  • Com que frequência você come depressa?
    (  ) Nunca  (  ) Raramente  (  ) Algumas vezes  (  ) Frequentemente  (  ) Sempre

  • Com que frequência você deixa de observar cada porção que está comendo?
    (  ) Nunca  (  ) Raramente  (  ) Algumas vezes  (  ) Frequentemente  (  ) Sempre

Tabela Terapia Cognitivo-Comportamental e emagrecimento

É comprovada a eficácia da TCC em dietas de emagrecimento (Beck, 2009), há um protocolo de intervenções psicológicas específicas para clientes obesos que querem emagrecer e manter sua mudança de hábitos. Alguns pontos abordados no protocolo são:

  • Os gatilhos e os processos alimentares;

  • O pensamento das pessoas que fazem dieta para emagrecer versus o pensamento das pessoas magras;

  • A escolha de um “técnico de dieta” (equipe multidisciplinar);

  • Vantagens e desvantagens na escolha de um programa de exercícios físicos;

  • Avaliação dos seguintes aspectos: históricos de dietas, nível de motivação, hábitos alimentares, reações habituais com a dieta, fome e desejos, motivos pelos quais come demais, pensamentos permissivos, pensamentos relacionados à injustiça.

  • Estratégias de motivação para mudança de hábitos (razões pelas quais quer emagrecer, vantagens e desvantagens de emagrecer);

  • Metas que sejam específicas, mensuráveis, realistas, atingíveis e que tenham um tempo determinado;

  • Aprender a elogiar-se e reconhecer as próprias conquistas;

  • Aprender a alimentar-se devagar e conscientemente;

  • Organize-se: prepare-se para a mudança de hábitos;

  • Diferenciar fome, vontade e desejo intolerável de comer.

  • Técnicas de distração;

  • Planejamento diário;

  • Estratégias para o planejamento alimentar;

  • Técnicas de automonitoramento;

  • Como reagir aos pensamentos sabotadores;

  • Como superar desafios relacionados ao emagrecimento.

  • Como desenvolver novas habilidades para manter seu peso ideal.

Dicas para começar

  • Tenha uma equipe multidisciplinar (endocrinologista, nutricionista, psicólogo(a) e instrutor físico – quando necessário psiquiatra) em que você confie.

  • Lembre-se de que o processo de emagrecimento e mudança de hábitos precisar ser gradual, realista e levar em consideração sua rotina, gostos pessoais e metas.

  • Você e sua equipe multidisciplinar precisam escolher um método que seja sustentável à longo prazo.

Referência Bibliográfica:

Judith S. Beck - Pense Magro, a Dieta Definitiva de Beck. Ed. Artmed